top of page
  • Bianca Vasconcelos

FIV e FeLV, silenciosas e preocupantes.

Quem é louco por animal sabe a vontade que dá de levar pra casa aquele gatinho que a gente vê tão sozinho na rua. Tem gente até que começa a levar gatinhos de rua para casa e não para mais! (as gateiras de plantão). Quem já criou gato sabe o tamanho do amor que a gente vai criando pelo animal, mas vocês já pararam pra pensar que o seu gato pode vir dá rua doente e que essa doença pode passar para os outros gatos da sua casa sem você se quer perceber que o gato veio com a doença?

É o que acontece com gatos que têm FIV (Vírus da Imunodeficiência Felina) e/ou FeLV (Vírus da Leucemia Felina), que estão entre os causadores de doenças infecciosas mais comuns em gatos. Essas doenças são causadas por dois tipos diferentes de retrovírus, pertencentes ao gênero dos Gammaretrovirus (FeLV) e ao gênero dos Lentivirus (FIV), sendo que o FIV pertence ao mesmo gênero do vírus causador da imunodeficiência humana, a AIDS.

Tabela demonstrando os principais vírus da família Retroviridae e suas divisões taxonômicas

O FIV é transmitido principalmente pela inoculação parenteral do vírus, presente na saliva, por meio de mordedura e ferimentos por briga, assim como a inoculação do vírus ou componentes sanguíneos de gatos infectados por via subcutânea, intramuscular, intravenosa ou intraperitoneal.

A patogenia da infecção pelo FIV ainda não é completamente conhecida. Quando os gatos se infectam naturalmente, ou são inoculados experimentalmente, partículas virais são encontradas em tecidos ricos em macrófagos, com a replicação viral ocorrendo em tecidos linfóides (timo, baço, linfonodos) num período que varia de três a quatro semanas após a infecção. O FIV também se dissemina associado a células mononucleares (linfócitos, monócitos e macrófagos) em órgãos como a medula óssea, pulmões, trato gastrintestinal, rins e cérebro.

As manifestações clínicas associadas à infecção pelo FIV podem ser determinadas por uma ação direta do vírus ou como conseqüência da síndrome imunossupressora associada à presença do agente. Como a infecção pelo FIV é dividida em várias fases, é importante o reconhecimento das manifestações associadas a cada fase da infecção. Na primeira fase de infecção, de caráter agudo (fase I), o animal pode manifestar linfoadenomegalia (aumento de volume de um linfonodo) que varia conforme a idade do animal. São, em geral, inaparentes nos idosos, transitórias em indivíduos jovens e persistentes nos filhotes; fraqueza, prostração, enterite aguda, febre, leucopenia (leucócitos abaixo do limite inferior da normalidade), linfopenia (diminuição do número de linfócitos) e neutropenia (neutrófilos abaixo do limite inferior da normalidade) também são achados freqüentes. Na fase assintomática da doença (fase II), o animal permanece sem alterações clínicas significativas, ou que chamem a atenção do proprietário. Essa fase pode durar de meses a anos, existindo relatos de gatos que, após infecção experimental, levaram de oito a 10 anos para iniciar manifestações clínicas compatíveis com a evolução da doença.

Nessa fase, ocorre gradativa e marcante depleção do sistema imune do animal, o que irá predispor ao início das doenças de caráter crônico, nas fases terminais da doença. É a partir destas fases que os gatos se tornam doentes, com quadros crônicos progressivos, muitas vezes graves. Cerca de 80% dos diagnósticos são realizados nessas fases.

A inflamação gengival crônica é uma das conseqüências mais comuns da infecção pelo FIV; cerca de 50 a 80% dos gatos infectados pelo FIV apresentam gengivite crônica, associada ou não a outras manifestações clínicas da doença.

Animal positivo para o FIV com complexo gengivite-estomatite-faringite, com lesões ulcero-proliferativas e hiperplasia.

O FeLV pode ser transmitido via contato direto entre o animal infectado e o suscetível, através da saliva, mordeduras, acasalamento e com secreções contaminadas. A transmissão transplacentária pode também ocorrer, quando a fêmea gestante for portadora do vírus, infectando o feto, o que leva a quadros de abortos e/ou natimortos.

As manifestações clínicas do FeLV são atribuídas aos efeitos oncogênicos e imunosupressores do retrovírus, incluindo-se sinais clínicos inespecíficos como febre, anemia, linfadenopatia (processo patológico que afeta os nódulos linfáticos), perda de peso, glomerulonefrites (doença renal, em que ocorre lesão dos Glomérulos ou pequenos vasos sanguíneos nos rins), enterites (inflamação na mucosa do intestino delgado), atrofia do timo com consequente alta taxa de mortalidade.

Já foram identificados três subgrupos do FeLV patogênicos para os felinos. O subtipo A é o que representa menor patogenicidade, o C pode causar um quadro de anemia arregenerativa (quando a produção de eritrócitos é prejudicada) e o B acarreta variados quadros patológicos, como linfoma, anemia e leucemia.

A evolução da infecção pelo FeLV depende de vários fatores, entre eles a dose inoculada, a virulência da cepa, tempo de exposição e de fatores intrínsecos do hospedeiro como idade e a condição imunológica. Normalmente os filhotes são protegidos pelos anticorpos maternos até as seis semanas de idade, com a possível infecção transitória caso entrem em contato com o agente.

Frequentemente após a fase inicial de viremia, ocorre uma aparente recuperação do animal, sendo que os testes sorológicos, normalmente, resultam negativo nessa fase. No entanto, o vírus se encontra de forma latente, com células infectadas na medula óssea e linfonodo Pode ainda haver reativação viral em casos de situações estressantes para o animal, ficando esses com viremia persistente. Os animais nesse estágio de infecção não produzem resposta imune efetiva com o vírus, resultando no óbito três a cinco anos após o início da viremia.

Teste para Fiv e FeLV

Como deu para ver, nas duas doenças ocorrem fases assintomáticas, nas quais não dá para saber se o animal é portador da doença. Devido a isso é importante fazer o teste em gatos recém adquiridos (principalmente vindos da rua, devem ser testados antes de entrarem no ambiente), filhotes antes da vacinação, animais que têm acesso à rua, todo e qualquer felino doente e gatos que tiveram contato com soropositivos.

A prevenção é de fundamental importância. Existe vacina somente contra FeLV aqui no Brasil. Gatos de grupos de riscos devem ser vacinados, como os que vivem semi-domiciliados e de ambientes com vários outros indivíduos. A castração precoce pode diminuir o risco de infecção visto que dificulta o comportamento de risco do indivíduo em sair e brigar com outros gatos. Deve-se evitar, também, a entrada de novos animais, principalmente não-testados e de origem desconhecida. Em casos positivos recomenda-se separar o felino doente, evitando que este saia ou entre em contato com outro gato.

O tratamento é praticamente de suporte, visto que os anti-virais humanos recomendados são de difícil acesso. Uma excelente alimentação, cuidados higiênicos, profilaxia dentária, vacinação, vermifugação em dia e claro acompanhamento veterinário,são fundamentais. Devido à natureza das duas doenças, um gato com FIV geralmente vive mais do que um com FeLV. Animais com o vírus da Leucemia Felina tendem a desenvolver quadros mais graves precocemente.

Vale ressaltar que tanto a FIV quanto a FeLV NÃO SÃO TRANSMISSÍVEIS AO SER HUMANO e nem ao seu cachorro, são doenças exclusivas de felinos.

Referências:

Meinerz, A. R. M.; Antunes, T. A. et al. FREQUÊNCIA DO VÍRUS DA LEUCEMIA FELINA (VLFe) EM FELINOS DOMÉSTICOS (Felis catus) SEMIDOMICILIADOS NOS MUNICÍPIOS DE PELOTAS E RIO GRANDE. 2010, acessado 20 de abril, 2016. DOI: 10.5216/cab.v11i1.438.

DANIEL, Alexandre G. T. Imunodeficiência viral felina. Universidade Metodista de São Paulo, H.V. Santa Inês. São Paulo, SP.

Pereira, Reginaldo. FIV e FeLV: O que os proprietários devem saber. Disponível em:<http://medfelina.blogspot.com.br/2012/04/fiv-e-felv-o-que-os-proprietarios-devem.html>. 21 de abril de 2016.
PROCURE POR TAGS:
POSTS RECENTES:
bottom of page